Gandalf: As outras faces de um só mago




Um mago nunca se atrasa, nem se adianta, ele chega exatamente quando pretende chegar...




The Art of the Lord of the Rings. Cover images: 2004, p. 43




 Escrito por Iuri Amorim

                                                                                                Introdução

Sendo um dos personagens mais icônicos da literatura no século XX, Gandalf, o cinzento (Ou “o Branco”, para quem o bem conhece), sem dúvida registrou-se como uma das mentes mais sapientes e eruditas do Universo “Tolkieniano” (assim chamaremos a conjuntura de obras criadas por J.R.R Tolkien ao longo do texto). Sendo responsável pelo impulsionamento dramático de romances como “O hobbit” e “O Senhor dos Anéis”, a figura do Mentor, apesar de seu fantástico aproveitamento no enredo, permanece misteriosa a vista de muitos dos fãs do mesmo universo.
No Sul, Incánus. Na terra dos elfos, Mithrandir. Por entre os anões, Tarkûn. O peregrino cinzento é na verdade um dos Maiar. Maiar no universo Tolkieniano, são seres semelhantes aos Deuses antigos, uma casta menos poderosa que os Valar. Essas espécies de divindades escolheram habitar dentre a criação. Gandalf vivia em Vanilor (terra abençoada dos Valar e Maiar), e foi a Terra Média com a missão de combater as forças de Sauron
Contudo, o mago representa muito, mais do que seu Significado aparente.





                                                      Influência do Cristianismo



            Talvez como resultado das poesias trovadorescas, vários grandes ciclos literários sofreram a influência do cristianismo em suas composições, como exemplos desses ciclos podemos citar os contos Arturianos, os quais relatam a saga do rei Bretão Arthur Pendragon, que lutou tanto contra a invasão Anglo-Saxã, como também enfrentou figuras místicas e sobrenaturais. O próprio Saint Graal (no português “Cálice sagrado” ou “Santo Graal”) pode ser um exemplo dessa influência, o objeto é nada mais do que o cálice usado por Jesus Cristo em sua última Ceia, e nele José de Arimatéia teria recolhido o sangue de Jesus enquanto o mesmo estava sendo crucificado. O objeto tornou-se símbolo de prosperidade no reino de Camelot, almejado como aquilo que traria de volta a paz nas histórias Arturianas. Com Gandalf, essa influência não foi muito diferente, mais discreta, podemos dizer. A missão de Jesus Cristo, como relatam as histórias bíblicas, seria de morrer para salvar a humanidade, Deus enviara seu filho, e este ao ser crucificado iria redimir a humanidade de seus pecados. Uma das passagens semelhantes no romance de Tolkien “O Senhor dos Anéis”, figura-se nas pontes de Khazad Dum, Gandalf sabia que seu destino era o de enfrentar o Balrog, assim como Jesus cristo sabia que seria crucificado, o mago faria isso para salvar Frodo que supostamente poderia devolver a paz a terra média, Jesus Cristo se sacrificaria também para salvar a humanidade.

            As influências poderiam parar por aí, mas provavelmente Tolkien quis tornar as coisas mais interessantes. Ao terceiro dia depois de sua morte, Jesus Cristo Ressuscita e sobe aos céus, na mais puras das imagens, o Salvador. Gandalf, após sua queda nos abismos de Minas Tirith, onde supostamente havia morrido, recebe uma espécie de sopro divino, e misteriosamente volta a vida, como se houvesse ressuscitado. Depois disso, o andarilho deixa de ser o cinzento e retorna como um novo ser: Gandalf, O Branco! Aquele que se sacrificou pela salvação do portador (o conceito de se sacrificar pelos outros, com toda certeza é um principio cristão).

            Regressando um pouco na linearidade da História, precisamente na sociedade do Anel, onde o mago vai até a consulta de seu amigo, Saruman, podemos aproveitar alguns detalhes que supostamente foram influenciados pelos contos Bíblicos. Jesus Cristo passa 40 dias de fome no deserto, sofrendo uma forte tentação pelas palavras de Lúcifer para render-se, porém, o Salvador conserva-se iluminado, sem ceder por nenhum momento, mostrando-se assim o filho de Deus. Gandalf ao chegar na torre de Saruman, se depara com seu amigo rendido as forças de Sauron (ou seja, caído assim como Lúcifer), Saruman profere palavras de tentação que buscam fazer com que o mago cinzento também se renda ao império que devastaria a terra média. Negando-se a isso, Gandalf perde em um combate mágico contra Saruman, onde é aprisionado em sua torre por muitos dias, chegando a ficar maltrapilho e faminto assim como ficara Jesus Cristo. Mas o mago não se rende, e consegue escapar sem cair na obscura tentação.

            Várias outras discussões cabem a essa influência Cristã no mundo de Tolkien, como os Orcs, que são elfos caídos, e supostamente representam os demônios deste universo. Todavia, essa talvez seja uma análise de outrora.



                                                                Influência Medieval

        Com toda certeza, não só o Cinzento, como todo o cenário das histórias Tolkienianas são puramente medievais. A figura do Mago em si, reflete estreitamente no que é Gandalf. Os magos existiram, disso não podemos duvidar, eram figuras de um conhecimento extraordinário, independentes e misteriosos, vinham de terras distantes e serviam como conselheiros dos grandes reis, muitas vezes também dominando a natureza de poções medicinais tratadas como “mágicas”.
            Os famosos Bardos Trovadores talvez também tivessem difundido a figura do mago na antiga Europa medieval, e por isso, teria se criado a imagem mística e sobrenatural dos sábios andarilhos. Uma das figuras Europeias que podemos tomar como uma “possível” inspiração de Tolkien, seria o famigerado mago Merlin do ciclo Arturiano. Avô de Artur Pendragon, e mentor tanto de seu nascimento, como de sua ascensão a grandiosidade, o mago Merlin além de possuir aparência semelhante, assemelha-se também em sua erudição e misticismo ao cinzento Tolkieniano. Em vários lugares da terra média, Gandalf é mencionado pelos poemas, lendas e contos assim como muitos outros feiticeiros, trazendo consigo o ar místico que tinham os clássicos magos na literatura inglesa.


                                                        Influência da mitologia Nórdica

      Uma das maiores genialidades de J.R.R Tolkien, foi usar de várias mitologias do mundo antigo (algumas até extintas), porém, uma em particular chama bastante atenção de seus fãs, por provavelmente ser a mais influente dentro daquele universo: A mitologia Nórdica. A antiga Escandinávia, por volta de 700 a 900 d.c foi habitada pelos Vikings, povo guerreiro e saqueador, cuja crença se baseava em Deuses que clamavam pela guerra e a conquista de novos mundos. A mitologia Nórdica era a crença dos Vikings. Trolls eram seus monstros, elfos os filhos dos ventos, os anões lendários forjavam as armas dos Deuses, e todos estes seres são personagens dentro do mundo de Arda (nome dado ao mundo criado por Tolkien). A mitologia se estende, e um dos seus principais integrantes será o comparativo para o decorrer do texto. Odin, o pai dos Deuses, é sempre retratado de muitas formas dentro dos contos Nórdicos, sendo a mais famosa a de um andarilho de terras longínquas, chapéu de abas largas, barba longa e corpo velho. Gandalf, sem sombra de dúvidas usufrui, dessa mesma imagem, talvez seja até mesmo idêntico.


                                                                Conclusão
Tudo o que temos de decidir, é o que fazer com o tempo que nos é dado
Seria quase impossível desmistificar as histórias de Tolkien. Uma das características de um bom romance é ser montado por várias influências, até o ponto que se torne único. Por fim, são as diversas alusões a estudos, culturas, e crenças antigas que nos fazem gostar de obras renomadas como “O Hobbit” e “Senhor dos Anéis”, a terra média e o mundo de Arda são realmente fascinantes!

EXTRA


Conheça o Deus que inspirou Gandalf (matéria do History: https://seuhistory.com/noticias/conheca-o-deus-que-inspirou-criacao-de-gandalf)

  



         Leituras recomendadas para entender mais o universo de Tolkien:



·                Contos Inacabados;

·         O Silmarillion;

·              Beren e Luthien.


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